MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

MEUS PRIMEIROS CEM ANOS

José Márcio Soares Leite *

No dia 21 de janeiro deste ano tive a felicidade de participar do aniversário natalício da senhora Inês de Castro Loureiro, que completou 100 anos, cercada pelo carinho dos filhos e amigos que ali se fizeram presentes, regozijando-se em vê-la lúcida, loquaz e a manter com todos uma boa prosa, bem ao estilo de sua verve.
Ao nos despedirmos, mais uma grata surpresa, fui presenteado pela anfitriã com um exemplar de sua obra “Meus primeiros Cem Anos ”que, segundo relato da filha Moema, foi todo escrito a partir da narrativa de dona Inês.
Confesso que logo ao chegar em casa, não resisti à curiosidade e comecei a deleitar-me com tão preciosas páginas, a narrar fatos de sua vida pessoal e principalmente, acontecimentos importantes da história de Pinheiro no século XX, sob os pontos de vista sociais, médicos, econômicos, religiosos, políticos, culturais e educacionais, com riqueza de detalhes, haja vista ter sido protagonista de muitos deles. Uma narração simples, bem ao seu estilo, mas de leitura prazerosa, que desperta o interesse de conhecer e até mesmo de entender importantes passagens históricas sobre o cotidiano daquela cidade, sua gente, seus costumes, seu desenvolvimento e crescimento econômico, cenários esses que eram desconhecidos por mim e creio, por muitos pinheirenses.
Um livro que, sem dúvida alguma, vai somar-se a mais uma descrição histórica da nossa Cidade de Pinheiro, completando e até acrescentando algumas vezes, o que está escrito nas obras Quadros da Vida Pinheirense, de Jerônimo Viveiros, Pinheiro em foco de Aymoré de Castro Alvim, Coisas de Antanho de Josias Peixoto de Abreu, Lugar das Águas de José Jorge Leite Soares e A Saga de um Lutador, do Parnaiba ao Pericumã, por mim escrito, sobre a biografia do meu pai Orlando Leite.
Inês revela-nos, por exemplo, importantes acontecimentos da história da saúde pública de Pinheiro, muitos dos quais gravitaram em torno da Farmácia da Paz, de propriedade de seu primeiro marido José Paulo Alvim, homem de inteligência brilhante, e que por muitos anos cuidou da saúde da população até que a cidade viesse a ter seu primeiro médico.
É importante destacar também que, mesmo talvez não sendo essa sua pretensão, a obre termina por revelar-nos, no campo da sociologia, como se processava a vida cotidiana da cidade, os tipos humanos que formavam a sociedade pinheirense do século XX, cuja convivência e congraçamento eram característicos de uma única e grande família, à exceção de alguma situação política pontual.
Por último, a autora nos dá uma dica sobre o que devemos fazer para alcançar uma idade tão longeva, a saber: Viver, viver e viver. O primeiro viver – olhar a vida sempre com otimismo. Ao levantar-se sentir o sol invadindo a alma, fortificando o espírito; o segundo viver – preparar o corpo para as lides diárias e para o futuro; o terceiro viver – manter-se atualizado com o mundo à sua volta. Leia muito sempre.
Esta lição de dona Inês fez-me recordar a obra Regimen Sanitatis Salernitatum (O Regimento da Saúde de Salerno escrito provavelmente no século XII, e publicado na Inglaterra, na Itália e na Alemanha no século XIX. Escrito em versos, que bem ilustram este clássico de educação em saúde: “Por estas linhas a Escola de Salerno deseja toda saúde ao Rei dos ingleses e aconselha: A mente, mantenha-se livre, e, da ira o coração. Não beba muito vinho, ceie pouco, levante cedo. Depois de comer, ficar sentado causa danos. Depois do almoço, mantenha aberto seus olhos. Quando sentir as necessidades da natureza, não as retenha, pois é muito perigoso. E use ainda três médicos, primeiro o doutor descanso, depois o doutor alegria e o doutor dieta.”
Ao finalizar este artigo não vislumbro algo mais significativo para homenagear Inês de Castro Loureiro pelos bem vividos 100 anos, do que este trecho de um poema do seu segundo marido, o poeta e acadêmico Abílio da Silva Loureiro: “Tens no rosto, Inez a luz divina. Nos olhos, os raios típicos da alvorada. Beleza escultural da minha alma. Do meu vergel és rosa que ilumina...”
* Professor Doutor em Ciências da Saúde. Presidente da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências (APLAC).

Um comentário:

  1. Ao amigo José Márcio o nosso agradecimento pela deferência com a nossa mãe. O texto está muito bom. Você realmente traçou um perfil de dona Inez destacando importantes momentos da sua vida em Pinheiro.

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