MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

sexta-feira, 21 de junho de 2013

 PARTE II - FORMAÇÃO DA COMPANHIA DE JESUS


Inácio agrupou ao seu redor sete estudantes, idealistas como ele, com o intuito de catequisar os muçulmanos na Palestina, dentre eles: Francisco Xavier, Pedro Fabro, Nicolás de Bobadilha, Lejay  Broet, Diego Lainez, Afonso Salmerón, espanhóis e o português Simão Rodrigues. Encontravam-se na Capela dos Mártires ou Cripta de Saint Denis, na Igreja de Santa Maria na colina de Montmartre, onde planejaram a criação  de uma organização para desenvolver serviços de acompanhamento hospitalar e missionário, em Jerusalém ou servir onde o Papa determinasse, sem discussões, fazendo para isso, votos de pobreza e obediência. Há controvérsias em relação à data de fundação da Sociedade de Jesus – Societas Iesu.  Alguns autores dizem ter sido formada no dia 15 de agosto de 1534.
Na companhia de Fabro e Laynez viajou para Roma para tentar uma audiência com o Papa para pedir a sua autorização. O Padre Tomás Badia, Mestre do Sacro Palácio examinou todos os documentos apresentados pelo Padre Inácio, dando a sua aprovação, apesar da relutância da congregação de Cardeais.
Inicialmente Francisco Xavier e Bobadilha foram para Bolonha; Simão Rodrigues e Lejay para Ferrara e Salmeron para Sion; Codure e Hoces para Pádua.


Outros jesuítas estabeleceram-se nos arredores de Roma onde pregavam em igrejas e praças e pediam esmolas, levantando novas suspeitas de que seriam fugitivos da Inquisição espanhola. Através do Cardeal Cantarini conseguiu a esperada audiência com o Pontífice Paulo III, em 27 de setembro de 1540, que confirmou a nova Ordem através da Bula Regimi militantes Ecclesiae, limitando a 60 o número de professos. O Papa também autorizou que os membros fossem ordenados padres, em Veneza, pelo Bispo de Arbe, em 24 de junho do ano seguinte.
Com 10 integrantes, o Padre Inácio fundou a Companhia de Jesus, em 1540, embora já estivesse ordenado desde 1537, com a finalidade precípua de combater o protestantismo, reconquistar antigos fieis e catequizar os gentios, encontrados nas terras recém-descobertas ao mundo pelos navegantes ibéricos. O seu grande princípio tornou-se o lema Ad maiorem Dei gloriam. Escreveu as constituições jesuíticas adotadas em 1554 que deram origem a uma organização rigidamente disciplinada, com inspiração militar, uma autêntica milícia a serviço de Cristo.
O projeto inicial de ir para Jerusalém com todo o grupo não se concretizou, pois o Bispo de Arbe, aconselhou-os a desistirem da viagem devido às animosidades ainda acirradas entre a Igreja Católica e os turcos otomanos.
Em 1543 foi autorizado o aumento do número de professos, através da Bula Injuctum Nobis.
O símbolo da Companhia escolhido era IHS, abreviação do nome de Jesus, em grego ou da escrita latina do nome como era grafado na Idade Média: trata-se de um trigrama cristológico publicado no século XIV pelo pregador São Bernardino de Sena. No século XVI retornou com o significado de Jesus Habemus Socium (Temos Jesus como companheiro). O Padre Inácio usava essa logmarca no cabeçalho de suas principais cartas e escritos.
A Companhia é constituída por um órgão superior – Congregação Geral – da qual tomam parte todos os Superiores eleitos por suas Províncias; os Assistentes são eleitos pelas Províncias, de acordo com o critério geográfico e linguístico; os Superiores de cada Província governam as suas casas e cada casa tem um Superior Geral, chamados nos Colégios de Reitor. O cargo de Superior Geral é vitalício.
Congregação nova e diferente das demais conhecidas foi fundada em plena tempestade da ofensiva reformista e seus membros, escolhidos pessoalmente por Inácio, animados por um ardente zelo apostólico e ligados entre sí por uma rigorosa disciplina, lançaram-se em defesa da Igreja Católica, dispersando-se pelo continente europeu, em missões de combate à heresia, à propagação da fé e à catequese dos infiéis. Em pouco tempo, conquistaram grande projeção na hierarquia das Ordens Religiosas.
Agrupando os mais insignes humanistas dotados de uma expressiva cultura literária e religiosa, eram pregadores capacitados, intelectuais poderosos, procurados para dirimir questões diplomáticas, tornando-se indispensáveis aos governos.
Desde 1550 quando o Padre Inácio adotou o plano de campanha rigorosamente militar, aplicado  a partir de 1573, com as modificações introduzidas por Gregório VIII, as instituições inacianas adquiriram caráter de uma ordem militante anti -reformista, passando, definitivamente para o primeiro plano de suas atividades, a função educadora e o combate ao protestantismo.
 Excelentes professores e em pouco tempo abriram escolas que receberam as mais eminentes figuras das cortes europeias, distinguindo-se principalmente no ensino da Matemática, Mecânica e Astronomia.
O Padre Francisco Xavier encarregado de ir para a Índia, era basco como o Padre Inácio, iniciando a sua cruzada cristã em 1542, entre pescadores de pérolas da costa indiana. Sete anos depois, a bordo de um navio mercante foi para Kagoshima, no sul do Japão, aprendendo rapidamente o idioma local. Em dois anos já havia conquistado dois mil seguidores, elevando nos anos seguintes para cento e cinquenta mil.
 PARTE IIIMORTE, BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO

Eleito o primeiro Superior da Ordem, o Padre Inácio morreu aos 65 anos de idade, no dia 31 de julho de 1556, após chefiar os Jesuitas por dezessete anos. Foi beatificado em 1609 por Paulo V e canonizado em 12 de março de 1622, por Gregório XV. No mesmo documento foram canonizados, São Francisco Xavier, São Felipe Neri e Santa Teresa d’Ávila. Na Bula de Canonização foi reconhecido “como tendo uma alma maior do que muitas famílias”.
 Em 1922, após ser eleito, o Papa Pio XI constituiu Santo Inácio Celestial Patrono de todos os exercícios espirituais, de todas as instituições e congregações de qualquer classe. Em seu Jubileu sacerdotal, em 1929, editou a Encíclica Mens nostra sobre Exercícios Espirituais. Os retiros inacianos inicialmente eram realizados na primeira semana do Advento; com Paulo VI essa data foi transferida para a primeira semana da Quaresma.
Apesar das informações contrárias de Villoslada (1992) de que Iñigo nunca foi militar, segundo outros pesquisadores, fora Comandante de uma Companhia de Infantaria no cerco de Pamplona, sendo considerado o Padroeiro da Infantaria, a arma dos esforços prolongados e dos supremos sacrifícios.

   PARTE IV – ESCRITOS DEIXADOS POR SANTO INÁCIO

Poema em honra de São Pedro, escrito antes da sua conversão. Esse escrito desapareceu.
Em Loyola escreveu um livro de 300 folhas, também desaparecido.
Tratado sobre a Santíssima Trindade, conforme informação do Pe. Laynez. Também sumido.
Exercícios Espirituais  - livro que teve mais influência na transformação das pessoas e estruturas nas mais diversas partes do mundo.
Relatório de sua viagem à Terra Santa. Também extraviado.
Dois breves Diretórios de Exercícios.
Deliberação dos primeiros companheiros (reunião em 1539).
A Fórmula do Instituto, apresentado a Paulo III em 1539.
Relação de sua eleição como Geral da Companhia – 1541
Deliberação sobre a pobreza.
Diário Espiritual conservado apenas de 2 de fevereiro de 1554 a 27 de fevereiro de 1545.
Diversas regras.
Cartas e instruções –ainda se conservam cerca de sete mil delas.
Autobiografia ditada entre 1553-55 ao Padre Gonçalves da Câmara, constando de sua experiência espiritual, distribuída em cópias manuscritas, após a morte do Padre Inácio. Entretanto o Padre Francisco, terceiro Provincial Jesuita encarregou o Padre Ribadeneira escrever uma biografia, proibindo a leitura e divulgação do texto autobiográfico. Somente em 1929, referido texto foi resgatado e publicado em vários idiomas.

        PARTE V - OBRAS CRIADAS PELO PADRE INÁCIO

- Casa de Santa Marta, para acolher prostitutas e outra instituição para donzelas pobres e órfãs.
- Colégio Romano, em 1551 que viria a ser a atual Pontifícia Universidade Gregoriana. Com o advento do Papa Paulo IV, desfavorável ao Padre Inácio, a obra passou por muitas privações econômicas, sanadas no Pontificado de Gregório XIII, vinte e cinco anos após a morte do  seu criador.
- A Companhia de Jesus, a sua obra mais importante, cujo princípio Ad maiorem Dei gloriam, tornou-se o lema dos Jesuitas; também passou por grandes adversidades, pois sem renda fixa era mantida por doações. O estilo da nova Ordem despertava suspeitas, a ponto de ser considerada perigosa pela Universidade de Paris. Longe de esmorecer, o Padre Inácio manteve-se firme, decidido e a Ordem apresenta-se até os dias atuais, como um caminho para Deus: Via quaedam ad Deum.

          PARTE VI – BULAS, ENCÍCLICAS, BREVES

Bula Regimis militantes Ecclesiae – Paulo III, em 27 de setembro de 1540, oficializando a Companhia de Jesus, limitando a sessenta, o número de professos.
Supressão – 1760 por Pio VII
Breve Dominus ac Redemptor de 21 de julho de 1772, pelo qual Clemente XIV extinguiu a Ordem em toda a Cristandade, acatando as ordens dos monarcas de Portugal e da Espanha.
Breve de Pio VI de 12 de março de 1783, reconhecimento de um Noviciado na Polônia, assegurando a sobrevivência da Ordem.
Breve Sollicitudo omnium, de 7 de agosto de 1814, restituindo à Companhia de Jesus personalidade  canônica e jurídica da Igreja.

          PARTE VIISITUAÇÃO ATUAL DA COMPANHIA

Atualmente a Companhia de Jesus constitui a maior Ordem Religiosa do mundo com cerca de 30 mil sacerdotes, 500 Universidades e Colégios e 200 mil estudantes anuais.
No dia 13 de março de 2013, 473 anos após a fundação da Companhia foi eleito o primeiro Papa jesuíta, o Padre JJorge Mário Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires e Cardeal presbítero, de nacionalidade argentina, com o nome de Papa Francisco I, aos 77 anos de idade. Também o Papa Francisco foi o primeiro Pontífice não europeu em mais de 1.200 anos. Por esse motivo a logomarca da Companhia foi mudada.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

PARTE I – DA INFÂNCIA À CONVERSÃO

Iñigo Lopez de Recalde ou Iñigo Yanez de Loyola nasceu no dia 31 de maio de 1491, na casa-torre dos Loyola, no País Basco, perto de Azpeitia, a 20 km a sudoeste de San Sebastián, norte da Espanha, fazendo fronteira com as províncias de Biscaia e Álava, com a comunidade Foral de Navarra e com a França. Segundo alguns autores o seu nascimento teria sido no dia primeiro de junho e o seu lugar de origem é Guipuzcoa.
 Cercada pelas montanhas, uma delas a majestosa Izarraitz, que escondem, entre as pequenas localidades de Azpeitia e Azcoitia, no meio de um bosque de frondosos castanheiros e macieiras, essa região é cortada pelo rio Urola. Iñigo aí cresceu isolado não tanto pela geografia , como pela distância imposta por sua linhagem.





Filho caçula de um fidalgo de antiga família basca, poderosa, embora sem título de nobreza, d. Beltrán de Loyola e de d. Marina Sonnez, que tiveram treze filhos, desde cedo foi iniciado na alegria e na valentia do seu povo. O velho brasão dos Oñaz e Loyola, exposto no pórtico da casa, com dois lobos (=Lopez), simboliza ousadia, agressividade e poder dessa família, uma das características do povo basco.
Entre as famílias Oñaz e Loyola havia uma rivalidade impetuosa que se traduzia em grupos opostos, tendo os Reis Católicos de intervir para diminuir e aliviar essas disputas. O avô paterno foi castigado, sendo exilado de sua casa. Ainda na infância perdeu a sua mãe e aos dezesseis anos seu pai faleceu.
Dos irmãos sabe-se que João, o primogênito e Beltrão, o terceiro morreram guerreando em Nápoles (1496). Hernando veio para a América fazer fortuna e aqui desapareceu. Pedro se tornou sacerdote da paróquia de Azpeitia e suas irmãs Juaniza, Madalena, Petronila e Sancha viviam na casa-torre com os criados e a sua ama-de-leite Maria Garin.
De pequena estatura (1,58m), Iñigo tinha pele morena, queixo pontudo, usava seus cabelos arruivados compridos, como era o costume na época, roupas vistosas e gorro vermelho, típico do bando dos oñacianos. Em 1505 por fatos acontecidos no carnaval em parceria com um dos seus irmãos, fugiu de Loyola indo morar no palácio real de Arévalo onde viveria, como pajem de d. Juán Velasquez de Cuellar, ministro do Tesouro Real do reino de Castela, casado com d. Maria de Velasco, durante o reinado de D. Fernando de Aragão. Iñigo passou a viver como cortesão, levando estilo de vida leviana, e se fez homem, no meio do luxo e da vaidade da corte do Rei da Espanha. Aí ficaria de 1506 a 1517. Com a morte de D. Fernando,  Velasquez de Cuellar  foi desapropriado dos seus bens pela Rainha D. Germana de Foix, o que provocou a sua morte, em 1516. Com o desaparecimento do seu protetor, Iñigo colocou-se a serviço do Vice-Rei de Navarra, D. Antonio Manrique de Lara, Duque de Nájera.
Extremamente vaidoso, gostava de vestir-se bem; ao ingressar na carreira militar andava sempre armado e usava uma couraça, mantendo os cabelos compridos. Segundo informações de Villoslada, Iñigo nunca foi soldado, nem capitão, sequer fez parte do Exército. Era familiar do Duque e  seu gentil-homem.
Lutando no cerco de Pamplona, sitiada por Francisco I, foi atingido por uma bala de canhão, ferindo gravemente a perna direita, em 20 de maio de 1521. Nessa época tinha apenas 26 anos, e viu ruírem os sonhos de conquistas militares; passou meses inválido no castelo da  sua família, ficando coxo para o resto da vida.
Durante a sua longa convalescença leu muitos livros sobre a vida de Jesus (Vita Christi de Rodolfo da Saxônia) e biografias de santos (Flos sanctorum e  Legenda aurea) de autoria do monge cisterciense, Jacopo de Varazze, que comparava o serviço de Deus com uma ordem cavalheiresca. A partir dessas leituras, convenceu-se da futilidade dos seus projetos militares, empolgou-se com a ideia de uma vida dedicada a Deus, emulando os feitos heróicos de São Domingos e São Francisco de Assis, imaginando seguir-lhes os passos, na radicalização de uma vida entregue ao serviço de Deus. Tocado por esses relatos sobre os santos, experimentou uma alegria profunda e duradoura, decidindo-se pela conversão dos infiéis na Terra Santa. Da frustração nasceram novos sonhos e ideais.




Convertido, troca o seu nome Iñigo (ignis=fogo) nome do velho homem, violento e passional, por Inácio, um novo homem humilde, serviçal e fraterno.
Em 24 de março de 1522, Inácio decide abandonar suas roupas finas, dá adeus à abastada família, pendura seu equipamento militar perante uma imagem da Virgem Maria, consagrando-lhe as suas armas e parte para uma vida de mendicância, estudos e viagens. Veste o saco da penitência, dorme em albergues, faz jejuns e vigílias.
Em 1523 seguiu para os arredores de Barcelona, na Catalunha, fixando-se na pequena cidade de Manresa, hospedando-se na casa de Inez Pascual, sua conhecida, dedicando-se ao estudo da gramática latina. Nessa época ajudou na reforma do Mosteiro Nossa Senhora dos Anjos onde fazia suas pregações. Mais tarde fez retiro no Mosteiro de Montserrat, em clima de total austeridade, penitências e profundas orações, seguindo rigorosamente as sete orações da Liturgia das Horas, abstendo-se da ingestão de carne e vinho. Fazia visitas aos enfermos levando-lhes consolo e comida. Foi nessa localidade que descobriu a sua vocação, às margens do rio Cardonet. Após o retiro em Catalunha, foi para Roma com o objetivo de conseguir passaporte pontifício, indo depois para a cidade portuária de Java de onde viajou para Jerusalém para visitar os lugares sagrados, sob a orientação de um franciscano. Na época da Reforma ele deve ter sido o único cristão reconhecido que teve o privilégio de visitar o lugar onde Cristo morreu.
Nessa época já reunira três companheiros para reformar suas vidas e a Igreja.Com Deus, Inácio conseguiu testar a sua paixão convertida, pois sua única ambição tornou-se a aventura de salvar almas.A partir daí sua espada era o amor e seu escudo, Jesus.
Na volta de Jerusalém seguiu para Alcalá, ingressando na Universidade onde começou as pregações e a ensinar seus exercícios espirituais, sendo por esse motivo preso pela Inquisição e proibido de pregar até o fim do curso de Teologia. Foi solto quarenta e cinco dias depois graças à intervenção do Arcebispo de Toledo, que manteve a decisão do Vigário quanto às pregações, incentivando-o a ir para Salamanca, conseguindo, para isso, uma vaga



Em Salamanca voltou a pregar, sendo novamente preso. Para obter a liberdade seu livro sobre os Exercícios Espirituais foi examinado pelos doutores que o proibiram de pregar por quatro anos.
No ano de 1528 decidiu ir para Paris a fim de concluir seus estudos, entrando nesse mesmo ano, no Colégio de Santa Bárbara onde ficou durante sete anos, aprofundando seus conhecimentos em Educação Teológica e Literária. Em 1553 obteve licença docente, tornando-se Mestre de Artes no ano seguinte. Nessa cidade desenvolveu um trabalho evangélico junto aos moradores e, como era leigo, despertou a suspeita das autoridades locais.

terça-feira, 18 de junho de 2013

SANTO INÁCIO: de LOIOLA a PINHEIRO

                                   INTRODUÇÃO

O destino de um indivíduo começa a delinear-se antes mesmo do seu nascimento, por fatores que independem da sua vontade, da sua escolha: a família, o local e a época do seu nascimento, o lugar em que se deu a sua formação, os costumes da sociedade da época.
Através de todas as informações levantadas, procurou-se ir além  da trajetória de vida de Santo Inácio, para conhecer a sua personalidade, a sua interação no contexto da  sociedade vigente, do temperamento ardoroso e combativo do povo basco, dos valores que lhe foram incutidos, moldando-lhe o caráter, o orgulho de casta, não só em relação ao ambiente familiar mas pela  compreensão da hierarquia  social, na transição do sistema feudal para o Renascimento.
 A sua juventude transcorreu no fim da Idade Média, com a desfeudalização, sistema em que havia senhores, cujos requisitos de nobreza, vassalagem, cavalheirismo, foram pouco a pouco sendo substituídos, em face das mudanças de paradigmas e de transformações das estruturas medievais arcaicas, despertando a consciência dos direitos individuais e de um sentimento interior de afirmação pessoal, de seus valores  e de seus pontos de vista. Havia um grande desejo de reformar, adaptando as velhas instituições, já em crise, aos novos tempos, pelas descobertas de novas terras, ampliando as fronteiras do mundo conhecido, impulsionada pela invenção da imprensa que possibilitou a difusão da cultura, até então restrita às cortes e aos mosteiros.
Os espíritos lúcidos presenciavam o fim de uma época e o nascimento de outra. O ímpeto de derrubada das estruturas tornou-se verdadeira obsessão, saindo dos claustros dos mosteiros e das Universidades e chegando ao campo: os camponeses do sul da Alemanha se uniram a pequenos proprietários de terras para exigir reformas econômicas e religiosas, chocando os vizinhos  ricos com as suas reivindicações, inclusive o direito de indicar seus párocos, diminuir o dízimo, em grãos, à Igreja, reduzir o aluguel pago aos proprietários das terras e outras exigências.
A Reforma Protestante desencadeada pelo ex-monge agostiniano, Martinho Lutero, implodiu a Cristandade, a partir da Alemanha, irradiando-se para toda a Europa, exceto na Península Ibérica, ainda mergulhada nas trevas da Idade Média, onde não prosperaram essas ideias reformistas; também na França, onde o Cristianismo estava entrincheirado,  mais no meio do povo do que dos governantes.
Antes de Lutero outros indivíduos já difundiam ideias heréticas como John Wycliff, teólogo inglês, nascido em Yorkshire no ano de 1320, estudioso, fluente  em latim e inglês e muito conceituado em Oxford e que liderou uma corrente anti-papal e anti-clerical, influenciando toda uma geração, com seus manuscritos, pois não havia gráfica nessa época. Mais tarde, Jan Huss, reformador tcheco, nascido em 1369, reitor da Universidade de Praga, adepto das doutrinas de Wyccliff. Excomungado em 1412, foi queimado vivo, por ordem do Concílio de Constance, três anos depois. Também Ulrich Zwingler, ou Zuinglio, humanista, suíço, nascido em 1484, cura de Glarus, onde continuou os estudos de hebraico, grego e latim. Influenciado pelas ideias de Erasmo, a partir de 1516, formulou teses doutrinárias reformadoras, rejeitando o magistério de Roma e incentivando o uso do idioma alemão nas práticas religiosas, permitindo o acesso aos populares. Morreu em 1531, em batalha, para fazer valer suas ideias.   
 Porém o mais importante de todos foi Lutero, nascido em Eisleben em 1483, filho de um trabalhador de minas de cobre. Mestre em Filosofia pela Universidade de Erfust, monge agostiniano, sacerdote e doutor em teologia, discordou das diretrizes e normas emanadas de Roma, protestando através de documento publicado em 1517, constando de noventa e nove teses que marcaram o início da Reforma. Entre os convertidos ao luteranismo havia numerosos gráficos, expoentes de um ofício recentemente chegado da China, disponibilizando as novas prensas que espalharam a mensagem de Lutero. Em três de janeiro de 1521, Lutero foi formalmente  excomungado pelo Papa Leão X e banido do Império, refugiando-se em Wartburg onde traduziu a Biblia para o alemão. Em 1528, já desligado da Igreja, casou-se. Com a colaboração de Melanchthon elaborou dois documentos,em alemão, nos quais se acha resumida a profissão de fé das igrejas luteranas.
 Desidério Erasmo foi um dos criadores das mais perniciosas ideias heréticas. Nascido em Roterdã, monge agostiniano dotado de grande energia mental e vasta cultura. Professor na Universidade de Oxford, escrevia fluentemente em latim, dominando mais tarde o grego, que lhe permitiu o acesso à  versão nesse idioma, de seções do Novo Testamento. Em 1516 publicou a Bíblia Vulgata, um dos livros mais influentes da época.
 Em 1525 foi a vez de William Tyndale, um industrial no setor de vestuário na Inglaterra traduzindo para o inglês o Novo Testamento, usando a linguagem popular, tornando-a uma das glórias da língua inglesa.
João Calvino surgiu uma geração depois de Lutero; reformador francês nasceu em Picardia, ao norte de Paris, em 1509.  Verdadeira enciclopédia ambulante em questões relativas à vida cristã, grande contestador, foi partidário da Reforma na França e na Suiça,  onde organizou uma república teocrática. Essencialmente teocêntrica, distingue-se das demais doutrinas protestantes pelo dogma da predestinação e da graça irresistível, retorno à simplicidade cristã primitiva, reduzindo os sacramentos ao Batismo e à Eucaristia. Após a morte de Lutero, em 1546, ele se tornou o líder do protestantismo, expandindo o calvinismo pela França, Suiça, Holanda, Inglaterra e Escócia. Os calvinistas eram chamados huguenotes pelos católicos franceses. Foi do calvinismo que saíram as seitas dos puritanos e a maior parte das igrejas presbiterianas, não conformistas, que o levaram para a América do Norte.
Também o papel da Igreja, a disciplina e os abusos  de grandes autoridades eclesiásticas, a intransigência e paradoxo da desconfiança inquisitorial, mais exacerbada na Espanha a partir de 1478, onde a Inquisição perdeu o caráter essencialmente de tribunal eclesiástico, com o objetivo de suprimir as heresias e o sincretismo de alguns grupos religiosos, para transformar-se e numa caça às bruxas e assim obter vantagens econômicas, promovendo  perseguições políticas e concorrendo para que essas ideias fossem aceitas por grande parte dos países da Europa.
A Reforma desencadeada enfraqueceu a unidade da Igreja pela difusão dessas ideias reformadoras que irromperam  no seio do catolicismo, provocando  a maior dissidência, e perturbando a ordem espiritual e a pregação do Evangelho. A política fomentava desordens nos grandes países, dividindo-os para  enfraquecê-los.
Além dessas ideias reformadoras que punham a descoberto as questões controversas da  Igreja, os católicos sofreram um novo revés com a queda de Constantinopla, um dos mais importantes bastiões do Cristianismo, tomada em 1453 pelos muçulmanos,  e que constituiu um marco do risco que corriam o papa e o seu domínio ocidental.
Em outros corações, entretanto, essas ideias despertaram a imperiosa necessidade de proteger a Igreja Católica pelo combate às heresias, irradiar a fé entre os gentios e incrédulos e reconquistar fieis que haviam se bandeado para as hostes protestantes.
              Foi nesse período em que se cruzavam todas as grandes questões da época, a centralização estatal, as aspirações imaginárias da cristandade pela erradicação das heresias e oposição e alteridade em relação aos infiéis muçulmanos, que Iñigo cresceu e amadureceu, reforçando os traços mais marcantes de sua personalidade. Foi nessa convergência de muitas práticas e realizações, de intertextualidades diversas, de dissenções e lutas, que se deu a sua conversão,  reafirmando a verdade irrefutável que os caminhos para chegar-se a Deus, são as vezes tortuosos e seus desígnios inescrutáveis.
             Toda a Península Ibérica de onde Iñigo provinha estava ainda impregnada pelo espírito da Idade Média, refletindo-se no apego ao dogma e à autoridade, a tradição escolástica da literatura, o desinteresse quase total pela ciência. Além dos Pirineus  as luzes  do novo século não haviam penetrado, causando impacto as mentalidades audaciosas, que ainda se mantinham nas trevas, principalmente em  Portugal.
A conversão de Iñigo se deveu a um acidente sofrido nos campos de batalha, interrompendo e soterrando suas aspirações de glórias militares, mudando as suas concepções de vida, descortinando outras maneiras de servir não a um senhor, nem a uma causa menos nobre, mas a Deus, encarando  suas crença como uma missão, desencadeando uma cruzada militar contra os protestantes.