MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

sábado, 17 de maio de 2014

O CAFÉ NOSSO DE TODO DIA



                                                 INTRODUÇÃO

O café apesar de ser conhecido há séculos, quiçá milênios, somente foi incorporado aos hábitos dos povos civilizados há pouco mais de 500 anos.
A sua trajetória, uma verdadeira epopeia, partindo do planalto arábico, no Iêmen, situado na parte sul da Península Árabe e de lá para a Península Ibérica, no Ocidente, é rica de lances empolgantes, testemunha e protagonista das Grandes Navegações. Só para recordar, o Yemen fez parte do Reino de Sabbá (séc. III a.C), sendo conquistado sucessivamente pelo rei da Etiópia e pelo rei da Pérsia, no século VI d.C.. Somente em 1750 foi incorporado ao Império Otomano e, a partir de 1945 passou a integrar a Liga Árabe.
De comida de animais, sob a forma de pasta, principalmente de camelos e cabras do Iêmen o café, escoado através do porto de al-Makha (Mocha ou Moca) chegou à Grécia sendo usado por filósofos gregos para aumentar a sua concentração; condenado pelo Islamismo; rejeitado pela Igreja Católica; frequentando salões reais, motivo de controvérsias, e atualmente, reunindo  famílias ricas e pobres no café da manhã; servido nos botequins e cafés requintados;  fortalecendo laços de amizade e ajudando a manter a vigília de entes queridos, em velórios.
Quente, frio, ralo, grosso, puro ou misturado com leite, creme, conhaque, especiarias, essências, personagem festejado na literatura, música, artes plásticas, folclore, é responsável pelos altos e baixos da economia e finanças, coadjuvante da riqueza de países produtores, como o Brasil e a Colômbia, em nosso continente. Legal ou contrabandeado o café criou a primeira aristocracia do Brasil – “os barões do café” -, que durante vários anos na Monarquia e três décadas da República exerceram influência econômica, social e política, só dividindo a hegemonia com os cultivadores do cacau e os senhores dos engenhos de açúcar, no Nordeste.
Poucas pessoas dispensam o café como primeira refeição diária ou nas visitas sociais (aceita um cafezinho?). Herói, foi responsável pela criação e desenvolvimento de várias cidades, sendo protagonista da ereção de grandes fortunas, criando uma aristocracia rural; vilão, causando  falências de cafeicultores e consequente decadência de muitas regiões. Sem vida própria e duradoura como o ouro, depende das oscilações das Bolsas de Valores dos países consumidores.
Fez parte da nossa heráldica, integrando brasões aristocráticos e, como a maior fonte de renda do Brasil Monárquico ladeia, ao lado de um ramo de tabaco, as Armas Imperiais.
Influente na nossa Economia financiou guerras como a do Paraguai, sendo, também, responsável pela queda da Monarquia e proclamação da República, eventos pressionados pelos cafeicultores, após a abolição da escravidão que lhes tirou os braços escravos.
O café é a mais difundida e democrática de todas as bebidas, fazendo parte do desjejum de milhões de pessoas, dos grandes centros aos mais distantes lugarejos, aproximando as pessoas, embalando boas conversas e com cara, jeito e sabor do Brasil. Extremamente solúvel em água quente, sob a forma de infusão, é produzida a partir de grãos torrados do cafeeiro;  tem cheiro aromático e sabor amargo e é usada como estimulante. Contém em sua composição um alcaloide – cafeína, que atua no SNC (sistema nervoso central), alterando-o, criando  sensações agradáveis  no cérebro, solicitando outras doses. Age, também, no sistema autônomo, como estimulante, produzindo estado de excitação, ajudando as pessoas a despertarem pela manhã. Pode causar ansiedade e irritabilidade aos seus usuários.
Causa dependência física; quando as pessoas deixam de consumi-lo podem sentir sintomas desagradáveis como dores de cabeça, náuseas e problemas estomacais. A dependência da cafeína não significa danos à saúde, pois a maioria das pessoas vive normalmente se ingerirem pequenas doses, isto é, a sua dependência não caracteriza doença psiquiátrica. Entretanto, quando essas doses aumentam em volume e frequência, pode aumentar o estresse diário. Reduzir o consumo é benéfico, quando estamos atravessando períodos difíceis, pois ela  atua como estimulante, eleva o estresse e desencadeia uma série de doenças. 

   CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS

O café é uma bebida feita com frutos dessecados e torrados de um arbusto da família das Rubiáceas, do gênero Coffea que tem cerca de cem espécies. A mais difundida entre nós é a C. arabica, cultivada nos países tropicais, tanto para consumo como para exportação para países de clima temperado. A família das Rubiáceas tem 630 gêneros com 10 mil espécies.
Coffea arabica é um arbusto perene,  de crescimento contínuo, caule ereto, cilíndrico, duro,  lenhoso, medindo entre 2 e 5m, na fase adulta, mudando de branco-amarelado para verde e marrom, à medida que envelhece. Apresenta dimorfismo de ramos, que se tornam produtivos a partir do 6@ ou 11@ par de folhas, grandes, opostas e cruzadas no caule, persistentes, pecíolo curto, lâmina elíptica ou lanceolada, glabra, verde luzidio e claro; apresenta domácias nas junções entre a nervura principal e as secundárias. De constituição simples, tem o limbo em forma elíptica, base acuminada, ápice aristado e margem ondulada, medindo 90 a 18 mm. A inflorescência é constituída por flores em forma de glomérulos axilares, em número de 2 a 20 flores, hermafroditas com 5 estames e estigma terminal; ovário com duas lojas  indeiscentes. O fruto é simples, derivado  de um ovário, tipo drupa carnosa com duas sementes; pedúnculo curto, oval ou elíptico, com superfície brilhante, verde, passando a amarelo ou vermelho. As sementes são oblongas no caso de dois ovários e embrião pequeno. O cafeeiro precisa de uma série de estímulos externos para produzir frutos, tais como déficit hídrico, o fotoperíodo e a temperatura. Após as primeiras chuvas os botões florais crescem rapidamente em forma de bastonetes ou cotonetes. A volta das chuvas quebra o regime de seca quando os cafeeiros ficam em dormência com sérias mudanças hormonais. As flores são fecundadas antes mesmo de abertas.
As principais espécies, além da C. arabica são: C. canefora, C. iberica, C. racemosa e C. robusta.

             VALOR  NUTRITIVO

Planta medicinal antidepressiva, contém vitamina B., lipídios, aminoácidos, açúcar, potássio, cálcio, sendo rica em metilxantinas como a teofilina, a teobromina, ácido clorogênico e, sobretudo a cafeína que ativa as funções cerebrais, sem diminuir a capacidade de julgamento, afasta a fadiga física e mental, previne doenças neurológicas e melhora a função pulmonar de asmáticos. Em algumas pessoas,  reduz enxaquecas e cefaleias. Seus constituintes amargos estimulam a produção  do suco gástrico e ativa as secreções biliares. Possui compostos fenólicos e potássio com ação diurética, menor risco de cirrose e carcinoma hepático e valores hematológicos melhores.
Cem gramas de café possui 40mg de cafeína e três a quatro  xícaras combatem a depressão, diabetes tipo 2, cálculos biliares e câncer de cólon. Melhora o desempenho escolar e produtividade no trabalho.
Antioxidante, controla  os radicais livres e melhora o desempenho e prática de esportes. Doenças como infarto, malformação fetal, câncer de mama, aborto, úlcera gástrica não estão associadas ao consumo moderado de cafeína. Melhora a taxa de oxigênio do sangue. A cafeína chega às células do corpo em menos de 20 minutos; no cérebro aumenta a influência do neurotransmissor  dopamina.
O uso exagerado provoca ação diurética compulsiva com perda de sais de cálcio, potássio, sódio, magnésio, vitaminas A e C e as do complexo B.
Possui relação direta com doenças fibrocísticas, podendo causar o aparecimento de pólipos, verrugas, psoríase e outras afecções dermatológicas. Responsável pela ação acidificante do sangue, aumenta a probabilidade de aparecimento de leucorreia, cistite, colibacilos, acessos  fúngicos.  Reduz a taxa de oxigênio dos neurônios.

                            PROPRIEDADES  FARMACOLÓGICAS
Tônico do sistema nervoso central (SNC), anti-depressivo, mantém o estado de vigília; ativa a função cerebral e melhora a capacidade de estudo, atenção e trabalho. Três a quatro xícaras ingeridas diariamente reduzem a prevalência de doenças neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer e o Mal de Parkinson.
Seu efeito termogênico aumenta a  temperatura das células adiposas, ajudando a produzir energia com redução do peso. Melhora a capacidade física para exercícios e estimula a digestão.
Causa excitabilidade em certas pessoas. Seu efeito antioxidante pode reduzir a disfunção endotelial que leva a uma inflamação  das artérias, mecanismo fisiopatológico que está na gênese  de uma grande parte de quadros hipertensivos. É a bebida favorita dos estudantes, em época de provas, dos plantonistas, garçons, vigilantes, taxistas e demais trabalhadores da noite.


                 HISTÓRICO

O café, cujo nome deriva da palavra árabe qahwa, segundo alguns especialistas sobre o assunto, ou kahve (vinho), segundo outros é originário da Etiópia, sudeste do Sudão e norte do Quênia, onde vive em estado silvestre, crescendo espontaneamente no sul da Abissínia. Conhecido desde a Antiguidade pelas tribos africanas que chupavam os frutos vermelhos, chamados cereja etíope, costume mantido ainda hoje na África Central; também faziam uma pasta para alimentar  guerreiros e animais como camelos e cabras. Era comum mastigarem as folhas, como os  nativos descendentes dos Inca, fazem com a coca.
Seu cultivo estendeu-se primeiro na Arábia, introduzido por prisioneiros de guerras, onde se popularizou, aproveitando  a Lei Seca, no Islã. O Iêmen foi centro de cultivo importante e de lá para o mundo árabe. O conhecimento dos efeitos disseminaram-se e,  no século XVI foi introduzido no Oriente, sendo torrado, pela primeira vez, na Pérsia.
Os seguidores de Maomé foram inimigos implacáveis do café que venceu a resistência, sendo consumido até pelos doutores muçulmanos por afastar o sono, alegrar o espírito e favorecer  a digestão. Em 1475 surgiu em Constantinopla o primeiro estabelecimento de café, espalhando-se, esse hábito pelo mundo, disseminando-se pela  Ásia, África, Europa e Américas.
Alguns historiadores garantem que os gregos conheciam o café, cantado por Homero em A Odisseia, enquanto outros retroagem  ao
Antigo Testamento e que teria  sido usado pelo Rei David.
Apesar de não ter sido referido pelos Cruzados, acredita-se, também, que o café era desconhecido por Razes e Avicena, médicos persas, que viveram entre os anos 800 e 900, sendo o 1@, autor de cerca de 200 livros sobre medicina, filosofia, religião, matemática e astronomia.
Os árabes foram os pioneiros no cultivo  comercial, assim como na difusão de seu consumo. No primeiro milênio a.C. , os comerciantes do Reino de Sabá levaram o café para a península arábica. A lenda diz que os filósofos sufis, antigos sábios islâmicos consumiam o café para permanecerem acordados durante seus exercícios espirituais. De qualquer forma, o café adaptou-se muito bem à cultura áraba-islâmica, pois era estimulante sem ser alcóolico, apropriado à abstração e à matemática.
No Iêmen era cultivado em terraços para facilitar a irrigação. Não era permitida a saída dos grãos do país, a não ser após fervidos para impedir a sua germinação em outras regiões.
Nos séculos XV e XVI o café já estava amplamente difundido no mundo árabe, chegando a Istambul, na Turquia, por volta de 1500. Em 1600 já era encontrado na Índia e logo em seguida, através do porto de Mokha (que deu nome a um tipo de café), no Iêmen, por comerciantes venezianos que o levaram para Veneza e Itália, onde fora proibida aos cristãos. Somente o Papa Clemente VIII provou o café. Nessa mesma época os europeus tiveram contato com o cacau, o tabaco, o chá,  apaixonando-se por todos eles. Novas bebidas, novas mudanças de hábitos para um povo que só conhecia o vinho e a cerveja. Os jardins botânicos europeus, inclusive os reais, receberam as  primeiras mudas de café.
Na Inglaterra, em 1652 foi aberta a primeira casa de café da Europa Ocidental, seguindo-se dois anos depois, na Itália. Em 1672 foi a vez de Paris, onde foi adicionado o açúcar, no reinado  de Luiz XIV. Foi à Java, depois aos Paises Baixos. Dos jardins do rei francês saíram os primeiros grãos de café para a Martinica, levados pelo oficial francês  Gabriel Mathien de Clien. A Companhia das Índias Ocidentais incrementou o seu cultivo no Caribe, espalhando-se pelas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba.
O primeiro documento sobre o café data de 1696 que discorre sobre a maneira de preparar a bebida, suas propriedades e qualidades, baseado em informações constantes de manuscritos deixadas por Abd Alkader.
A palavra café foi mencionada pela primeira vez  na Europa, no século XVI, pelo naturalista  Leonard Rauwolf que fizera viagens ao Oriente Próximo.
Em 1671 foi publicado na capital italiana o primeiro livro sobre café, em Latim, língua erudita e universal à época, de autoria de Antônio Fausto Naironi, sábio maronita, nascido no Líbano (Ban), viajado pela Síria,   educado em Parma, fixando-se em Roma onde morreu.
                              
                      E  O  CAFÉ  CHEGA  AO  BRASIL


No Brasil o café entrou clandestinamente, em 1727, trazido  da Guiana Francesa, pelo sargento-mor português Francisco de  Melo Palheta, a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará, agregando, àquela época, a capitania do Rio Negro, atual Amazonas e o Ceará. Posteriormente o Ceará viria a reunir-se com o Piauí e Pernambuco.
O sargento Palheta tomou café pela primeira vez no Palácio do Governo, em Caiena e alí conheceu os cafeeiros, trazendo mais de trinta grãos e cinco mudas da rubiácea, plantadas  no Maranhão e na Bahia. Em 1831 chegava a Lisboa o café exportado do Maranhão e amostras do produzido no Grão-Pará, de melhor qualidade do que o café procedente das Arábias.
  Foi lento a trajetória do café até chegar ao seu solo natural, as terras roxas de São Paulo, percorrendo caminhos curiosos. Na capitania do Pará bifurcou-se, indo para o Amazonas e Mato Grosso. O outro ramo, partindo do Maranhão, desceu para o Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia e Goiás, aclimatando-se nas serras do Baturité, no Ceará. Entre 1760-62, foram levadas quatro mudas para o Rio, plantadas no morro de Santo Antônio, num convento de freiras em Santa Tereza e numa chácara, em São Cristóvão e daí para Inhauma, Mendanha, São Gonçalo, estendendo-se a Resende e finalmente para o Vale do Paraíba, São João Marcos e Angra. Outros historiadores dizem que entre 1800 e 1850 o Des. João Alberto Castelo Branco,  levou da Bahia para o Rio, mudas de café, onde foram cultivadas, estendendo-se, depois para o Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, locais onde as culturas foram bem sucedidas. Nos anos Oitocentos o panorama do Brasil mudou: da mineração, engenhos de açúcar e produção de aguardente para os cafezais: o Brasil passa a ser o café; e o café era o Vale; o Vale, o escravo.

      IMPORTÂNCIA  ECONÔMICA

Embora não sendo nativo do Brasil, foi nas terras roxas das Províncias do Espírito Santo, mais tarde de Minas Gerais e finalmente em São Paulo que o café se expandiu, graças ao clima ameno e solos férteis, respondendo pela demanda internacional. Após o declínio da cana de açúcar e a mineração, com a mudança do eixo produtivo do Nordeste e Minas Gerais para o Vale do Paraiba, entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira, o café reinou absoluto por mais de cem anos. A produção e a procura pelo café brasileiro não diminuiu: o preço no mercado internacional é que sofre oscilações.
De alguns cafeeiros cultivados nas então províncias do Rio de Janeiro e Espírito Santo, o café estendeu-se a Minas Gerais e São Paulo, através do Vale do Paraiba, nas primeiras décadas do século XIX, atingindo altos índices e recordes de produção com a utilização da mão-de-obra escrava. Entretanto alguns cafeicultores mais lúcidos perceberam que o trabalho escravo não tinha futuro, com a pressão feita pela Inglaterra para terminar o tráfico de africanos, através das Leis do Ventre Livre e do Sexagenário.
Em 1850 existiam no país, 2,5 milhões de escravos trabalhando na mineração, lavouras diversas e algumas centenas como artífices. Por ocasião da Abolição restavam apenas 500 mil, levando os cafeicultores a exigir mais do trabalho escravo, embora o tratamento desumano não fosse adequado á lavoura de café, pelos maus tratos e terríveis condições de trabalho.
A partir de 1850 começaram a chegar as primeiras levas de imigrantes da Europa, arrasada pelas guerras napoleônicas e outras. Os primeiros imigrantes foram os suíços (1816); no ano seguinte vieram os açorianos; nos anos posteriores os alemães e italianos  que representavam mão-de-obra livre e mais qualificada. Inicialmente foram para o Espírito Santo, mais tarde foram direcionados para São Paulo.
O café foi responsável pela economia e mudança na feição do Brasil, com a vinda desses imigrantes e mais tarde, no começo do século XX,  de japoneses que se miscigenaram com as gentes da terra, descendentes de índios, negros e portugueses. A produção de café foi insignificante entre 1810 e 1830. A partir de 1830 deu-se o primeiro surto da expansão cafeeira, crescendo a produção  vertiginosamente e dando origem às grandes  fortunas do país. Os primeiros fazendeiros eram tropeiros, comerciantes e mineradores que resolveram apostar no cultivo da rubiácea, responsável pela balança comercial favorável no Segundo Império, quando surgiu a primeira aristocracia cafeeira.
Durante todo o regime monarquista, os barões do café sempre exerceram cargos políticos. O brasão da Casa Imperial  era ladeado por dois ramos: de um lado o café, do outro o tabaco, sustentáculos da Monarquia, patrocinando a Guerra do Paraguai, abertura de estradas de ferro, para escoamento da produção pelo porto do Rio de Janeiro, mais tarde pelo de Santos. Foi também, o café que financiou e alavancou o início da industrialização brasileira.
De 1840 a 1870 o Vale foi responsável pela maior parte da produção e exportação do café brasileiro, liderando  a produção mundial e mudando toda a estrutura econômica. Depois de 1870, pelo esgotamento do solo, a produção entrou em declínio, com a decadência provocada, principalmente depois da Abolição da Escravidão e Proclamação da República. Os antigos barões transferiram-se para o Oeste Paulista, possibilitando a expansão territorial com a derrubada de matas e instalação de grandes núcleos urbanos, transformando São Paulo no estado mais rico do Brasil, rivalizando com a produção de cacau na Bahia e a pecuária do  sertão nordestino.
A ascensão social e econômica dessa elite foi surpreendentemente rápida e elevada, influenciando em aspectos importantes da História do Brasil, como a aprovação da Lei de Terras, pelo Imperador, em 1850, que possibilitou a posse das terras férteis.
Com a chegada dos imigrantes experimentou-se outro método de produção: a meação entre colonos que adquiriam terras e os fazendeiros, com excelentes resultados, pois os meeiros  tinham maior interesse em vigiar as plantações, alertando para o aparecimento das pragas que atacam o café, principalmente a broca e a ferrugem.
Os fazendeiros tornaram-se empresários, financiando os primeiros empreendimentos industriais. Mesmo com as oscilações da Bolsa de Valores o café sempre foi o produto de exportação mais importante do país, tornando esses fazendeiros paulistas presidentes do Brasil, alternando com os de Minas Gerais, na Primeira República quando imperara a política do Café com Leite.
Na década de 1930 a oligarquia do café sofreu duas derrocadas: a baixa do preço devido à queda interna provocada pela quebra na Bolsa de Valores de Nova York (1929) e a Revolução de 30, no Brasil.
Atualmente a Colômbia é o maior fornecedor mundial, vindo o Brasil em segundo lugar, tendo São Paulo perdido o status de maior produtor do país para Minas Gerais, embora as exportações brasileiras tenham caído de70% para 6%.
TIPOS DE CAFÉ - embora um grande contingente de pessoas continue a torrar e moer o café em casa, por processos artesanais, inúmeras fábricas com as mais diversas marcas, processem industrialmente o produto, vendendo-o em embalagens fechadas a vácuo, para conservar o cheiro.

CAFÉ SOLÚVEL: A primeira experiência com o café solúvel foi feita em 1867, nos EUA, porém só 1938 o café solúvel começou a ser produzido industrialmente. Até então era pouco mais do que uma curiosidade. Entretanto,  na  II Guerra Mundial, quando eram enviadas latas do produto para os soldados no front, seu uso passou a ser  difundido nos Estados Unidos. O café solúvel é feito fervendo, vários milhares de litros de cada vez, extraindo-se depois a água rapidamente. As primitivas marcas de café solúvel apresentavam duas desvantagens: uma era o lento processo de secagem quente que embolava as substâncias sólidas do café; a outra era a necessidade de acrescentar dextrose e outros carboidratos para estabilizar o gosto extremamente volátil. Tanto uma coisa como outra alteravam o sabor do produto. Depois da década de 1940 com a introdução de novas técnicas de desidratação permitiu evitar esses inconvenientes. Atualmente, todas as grandes marcas de café solúvel são de café puro.
Nos EUA os grãos são misturados num armazém perto das docas, com o emprego de café de diversas variedades, procedentes do Brasil, da Colômbia e da África. Na fábrica esses grãos entram em grandes fornos de torrefação, regulados por colorímetros que fazem o café sair do forno logo que atinge o tom castanho desejado, passando depois, através de várias cafeteiras, até obter-se um produto extremamente concentrado.
Atualmente milhões de pessoas de todas as partes do mundo utilizam o café solúvel, diluído em água ou leite quente.
A guerra do café solúvel para a modernização da economia cafeeira começou em 1950, sendo incrementada a partir de 1960.
No Brasil o café solúvel, ou Nescafé começou a ser processado em 1953, por iniciativa de um empresário suíço.
O café solúvel alcançou o auge de consumo em 1965, decaindo em 1970, quando os EUA interferiram no preço.
CAFÉ DESCAFEINADO: A primeira experiência com a retirada da cafeína do café foi feita em 1905 por Ludwig Roselius, sendo recebido com indiferença, desconfiança sendo o pivô de polêmicas. Atualmente 10% da população mundial usa o café descafeinado, obtido pela extração da cafeína por solventes específicos.

TIPOS  DE BEBIDAS  MAIS CONSUMIDAS FEITAS COM O CAFÉ

- Café turco ou kahve utilizado ainda hoje na Turquia e Império Otomano que incluía a Grécia, Oriente Médio, norte da África e Bálcãs. A bebida é preparada com café moído com consistência de farinha resultando uma bebida mais concentrada; saboreado sem açúcar, em chávenas pequenas.
- Café expresso – preparado fazendo passar a água quente (não fervente) sob alta pressão pelo café moído. São encontradas, no comércio, máquinas especiais para prepará-lo, por preço accessível.
- Café cappuccinocafé expresso ou espresso com leite, consistindo em 1/3 de café; 1/3 de leite e 1/3 de leite vaporizado.
Outras maneiras de degustar o café são mais comuns como: café com leite; café com especiarias, principalmente  canela, cravo e menta; café com conhaque; forte ou encorpado; fraco ou ralo; amargo, adoçado com açúcar, mel ou adoçante artificial; pingado, caneco; média e o mais comum – o cafezinho, elemento de sociabilidade.

USOS  NA  INDÚSTRIA E OUTROS

Além da indústria alimentícia, na confecção de licor, recheio de bombons, sorvetes, biscoitos, bolos, cremes , molhos, o café é usado na indústria de cosméticos, principalmente na produção de batons, sombras, perfumes, sabonetes, hidratantes.
A cor café é usada para caracterizar artigos de moda (vestuário, bolsas, sapatos) marrom escuro enquanto o café com leite para artigos de cor mais clara.
Foram, também, criadas expressões como café-concerto, para bares; café-society  (café-soçaote)para a nata da sociedade, cantada por Jorge Veiga.
Há famílias com o nome Café, sendo o mais famoso o vice- presidente Café Filho que assumiu o governo após o suicídio do presidente Getúlio Vargas.

O CAFÉ NA CULTURA BRASILEIRA

Indiscutivelmente o café contribuiu para forjar  o caráter de nacionalidade do Brasil, moldando a sua identidade cultural, não só nas características fisionômicas, hábitos e costumes dos imigrantes,  porém, principalmente como agente do desbravamento e desenvolvimento de grandes regiões brasileiras.
Na cultura, sem dúvida alguma a sua contribuição foi mais acentuada após a Semana de Arte Moderna, financiada por cafeicultores paulistas e mineiros, quando foram revelados os maiores talentos nas Artes e na Literatura, genuinamente brasileiros. Destacam-se os artistas plásticos Tarsila do Amaral, Anita Malfati, Di Cavalcante e o mais importante de todos, Cândido Portinari, autor da obra-prima Café. Na Literatura, incluindo Poesia, Crônicas e Ensaios:  Mário e Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo J-úlio Ribeiro; na História com Afonso d´Escragnolle Taunay, Francisco Mariano  e Eduardo Prado; na Tecnologia com o grande inventor do avião, Alberto Santos  Dumont; nas Ciências com Arthur Neiva, Emílio Goeldi, Freire Alemão, Frans Willhelm, Gustavo Dutra.
A nossa primeira hidrelétrica foi também construída com o dinheiro do café, em 1889, no rio Paraibuna, Juiz de Fora (MG), assim como a Estrada de Ferro D. Pedro II, depois Central do Brasil.
Na MPB com composições de Noel Rosa, Jorge Benjor, Roberto Carlos e muitos outros. No folclore, nos folguedos populares.
O café,  o “ouro verde” do Brasil, responsável pelas maiores fortunas,  fez parte da heráldica dos antigos barões do café, e do Brasão Imperial,  e  integra a bandeira do Estado de São Paulo.
Muito se sabe sobre o café, embora sua origem seja envolta em lendas e histórias não bem esclarecidas, mas o que se desconhece realmente é o agente financiador da cafeicultura no Brasil. Teriam sido os Judeus?  Ainda é uma incógnita!!!

  CURIOSIDADES SOBRE O CAFÉ

Reza a lenda que no século III, um pastor de Kafca, região da atual Etiópia ficara intrigado com a vitalidade das suas cabras após comerem os frutos vermelhos de um arbusto. Ele experimentou  e passou a mastigar diariamente tanto os frutos como as folhas. A palavra café deriva do árabe qahwa que significa vinho.


AGRADECIMENTOS

Aos amigos que me incentivaram a elaborar este texto,  abordando o Café e ao Prof. Dr. José Cloves Verde Saraiva que disponibilizou informações sobre o café solúvel.



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